Yage 559 : A Fever Dream
Talmud é um livro que acorda às seis horas da manhã
todo dia levanta-se e livra-se
como a gaivota de um Sol rosáceo
como se a noite estivesse esquecido de si mesma
puxada por um fio eterno
a garça da Graça desperta de dentro do Cosmo
de onde flui um giro de desejo calmo
e com ele, os dez mil seres, as atividades da vida
e o movimento dos astros
na ante-sala do cotidiano
o dínamo que move os mundos pulsa
simples como potência
adormecida em um pássaro sutil
que agora cresce, voa-se
manivela de vida
que sem mão ou ânsia
a tudo floresce
como nos olhos de um feto
que no afeto da luz
abrem-se qual flores de consciência
e em sua íris consomem eternamente
a decadência, o desejo e a morte
dando fim ao fim
enfim criança
“Chorem comigo para depois não chorarem por mim.”
Se a Terra é um ser vivo as águas não seriam apenas o sangue que corre em suas veias, mas as palavras que emanam de seu espírito. O verbo que dá a vida e que se faz carne. A água é a linguagem da vida, a comunicação da natureza e a eloquência do Ser.
A água é a palavra viva do espírito que transmite da altura dos ares e da profundeza dos vales a essência vital entre todos os seres. A palavra que dá vida aos seus filhos, que dá sentido e sentimento à toda natureza. A palavra que preenche dois terços do corpo do homem e também do corpo da Terra. A palavra que levanta como uma maré de fertilidade e silencia na secura dos desertos. A palavra comunica o espírito, pois lhe é um igual. Pura, maleável e incolor – e ainda assim cheia da capacidade de dar a vida – e também de levá-la.
A água é, enfim, o próprio espírito manifesto.
A água é a substância pela qual a vida se comunica e se desenvolve. Não é por acaso que estudos avançados passaram a identificar a inteligência que habita esse elemento essencial da vida — entendendo a sua capacidade de gerar e transmitir informação. Não parece também simples acaso que nosso corpo seja 72% composto de água e nossos cérebros 90%. A água é um condutor de informação vital. A água é o verbo da natureza e, em todos os níveis, precisamos ouvir o que ela já está a nos dizer.
Além das informações contidas em sua dimensão molecular, vemos também uma mensagem clara através de seus grandes ciclos. Hoje em dia locais do globo sofrem com cheias que levam a inundações destrutivas ao mesmo passo que outras localidades testemunham a seca profunda e crise hídrica severa. As águas estão nos avisando que algo de errado anda acontecendo com o nosso sistema. A água, como o elemento mais maleável e transparente da natureza está a nos passar uma mensagem: estamos em desiquilíbrio e precisamos retornar ao centro.
Mas onde está o centro?
“Não basta fechar a torneira, precisamos abrir o coração.”
O centro está dentro, mas assim como a própria água, somos profundos e maleáveis. Precisamos entender que o problema não está na superfície das coisas. Esta crise generalizada na qual o homem está inserido, onde a crise ecológica é apenas uma de suas facetas, se dá por um elo perdido profundo entre o homem e o espírito. Entre você e seu espírito.
A espiritualidade precisa ser resgatada como valor central de nossas vidas. Esse processo já vem acontecendo com cada vez mais força, mas a reconexão com a dimensão sutil se faz cada vez mais necessária. Nossa capacidade objetiva de se relacionar com coisas que estão além de nossa percepção precisa ser refinada, aprofundada e expandida – é tempo de transformação — e só há uma forma de fazermos isso: abrindo nosso coração para o autoconhecimento. Nos conhecendo e buscando com sinceridade nos conhecermos a cada dia, a cada minuto, mais e mais profundamente. Precisamos ir fundo em nós mesmos para sermos a mudança que queremos para o mundo.
Perceber a vida da água e a sua mensagem é uma das formas de colocar essa capacidade de se autoconhecer e se relacionar com o espírito em prática. Silencie sua mente através da meditação, controle seus sentimentos através da respiração e harmonize o seu corpo através da água. Não esqueça: tome banho, lave a alma e beba água.
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