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Biogram 620 : Nubia Sun

*do livro Hoje é Anjo Yagé

 

Hackatom

florindo jantas esquecidas

nos corações da fome

 

unindo famílias desunidas

em noites de motorhomes

 

preencho o peito de poucos

invado a vida de muitos

como um vírus leve e silente

que verte símbolos 

pelas linhas férreas de uma vasta internet esquecida

 

um tal hacker Leonardo

desvenda fibonaccis entre os solstícios do Capital

e libera lágrimas espessas em forma de códigos cálidos

em genital

 

armadilhas em Latitudes impossíveis

entre tribos tímidas da savana do sereno digital

um prodígio salva o mundo

mas desperdiça a sua saliva

na tradição de um cachimbo de veneno

que mata toda vida

 

e esse gênio

que seria eu

ou mesmo você

às invertidas

morre num átimo

junto a humanidade inteira

 

por um só átomo de besteira

 

 

 

 

 

  

Atenção Plena

cabeça vazia oficina de Deus

 

te mentiram meu amigo, te ocuparam as mãos

para que teu coração parasse de bombear

o óbvio

 

pois o óbvio é perigoso

 

 

e te deram telas

para muito além dos carnavais

e congelaram os dedos dos teus sonhos

e os nutrientes dos teus filhos

para que os deles

corações também

parassem de bombear

o óbvio

 

chamaram teu penso de oficina

e ao vazio, tua medicina,

deram o nome de um demônio

 

pois digo eu meu caro amigo:

a paz é o óbvio do ovo

o silêncio é o teu sono majestoso

a chave última

desta prisão perpétua

que virou a tua vida

quando a tua vida virou

as costas

para o óbvio

de novo

 

Cavalga-Mistéria

Cavalga-Mistéria

*do livro Hoje é Anjo Yagé

Me perguntava perante o fogo do tempo. Na relva outra de outrora. Onde meus amigos também se reuniam - ao derredor do sentido - no beiral do além-mato. Antes mesmo de partir para a jornada no galope do alazão de crinas de sonho. Que na quietude fogareira do prado encantado me cantou a ordem do mundo e me revelou a máquina mistéria que mói a vida comum. Lá Ele me disse: - Pois apenas os homens vivos - e engenheiros de preferência - podem operar o moinho da matéria, a bolsa de valores físicos e meta físicos, na roda viva dos sonhos capitais. Isto que prende o homem a todas ordens de sentidos deste sonho mal dormido. Que vinga a falta do pão. E lá de longe um brado uníssono acordava a consciência da luta: Já pão! Já pão! Já pão! As lacrimogêniadas crianças venezuélicas bradam num canto de insulto que expurga um governante mau da cadeira mais alta da esplanada. Espinhos de vitória afundam na pele dos cidadãos que dançam em revoadas pelas Cumbucas do Planalto. No epicentro do dejavu as torres gêmeas desmaiam como manchas entre os mistérios dos ministérios enquanto o caldeirão de Brasília ferve lama. Consumindo demônios menores na dança trágica de seus ingredientes. O detergente do mundo lava as calçadas da preguiça secular e a aragem dos agronegócios festejam de mãos dadas com o mistério amazônico. Judeus jantam enquanto juram de pés juntos que esta é a terra-prometida. Pois é Brasil, agora não tem mais saída. Vive teu destino! Festeja tua fortuna. Coloca teu bloco na rua. Entre os bancos, e as igrejas do pátio mil Pagus inquebrantáveis desfilam como deusas vedetes abraçadas pelo desfiladeiros de prédios apinhados. O mundo gira, se segura no cabelos dos sentidos e Roma desmorona secretamente na vacuidade da via láctea.  Um teor suave acomete o peito de milhares de eleitores e como um doce sol escala o cimo do entresenho de Gaia. Na entrelinha das estrelas habita um terceiro olho e no solo sobe ao poder um gênio frágil que governará a ordem do mundo por mil anos e dois cavalos. A paz mística decora a sala de 13 milhões de vidas e os planos de saúde caem em concordata enquanto o vida eterna levanta-se de seu berço. Em todos os equitares da Nova Pangea ouve-se o sobrenome do mistério. Silenciosamente o Sol toca os pés da terra - como um discípulo toca os pés de seu mestre. A mulher eclode em um orgasmo de carinho de mil séculos e o homem redime a foice de seus pecados que se convertem em gaivotas livres na beira da praia celesta de tamanho inominável. Eis o tempo dos estóicos, redimido nas danças de um platelminto, remediado nos orvalhos do bambu, renascido na cauda de um pavão e nos chifres de um alce. Quem diria! O destino da terra não estava então nas garras de uma águia, mas sim nos joelhos de um flamingo.

 *do livro Hoje é Anjo Yagé

Verdade

 

o que acontece
    é incandescente

e o que se esquece
    é o que não sou

morre em si mesmo
    o inventado

e só é verdade          o que sobrou